Como encarar a ansiedade e ser produtiva

Vamos começar hoje com uma pergunta: quantas vezes você deixou de se organizar, planejar, criar metas e objetivos por causa da ansiedade? 

Pois é, você não está sozinha. O transtorno de ansiedade é um problema que afeta aproximadamente 18,6 milhões de brasileiros. Com isso, o Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde-OMS. 

E isso, pode ser decorrente de vários fatores. Atualmente estamos vivendo na era da tecnologia e da informação. Avanços e mais avanços, notícias e mais notícias de todos os cantos do mundo. É tanta informação e aceleração que isso afeta diretamente a saúde mental de muita gente.

Nós recebemos diversas perguntas e dúvidas sobre como se organizar tendo ansiedade, como manter hábitos, e até desabafos de pessoas que querem muito mas não conseguem ser produtivas e organizadas, decorrente da ansiedade.

Por isso, conversamos a psicóloga Louise Quintella, psicóloga clínica, especialista em terapia cognitivo comportamental, sobre ansiedade, produtividade e organização. Ela nos conta como agir e a importância de procurar ajuda médica. A diferença entre ansiedade e transtorno, sintomas, como a ansiedade interfere na nossa vida, o que pode ser feito para amenizar esses momentos e como a criação de hábitos e uma rotina pode ajudar. 

produtividade e ansiedade

Vamos conferir? 

VP: Afinal, existe diferença entre ansiedade e o transtorno de ansiedade?

Louise Quintella: A ansiedade é um mecanismo natural de proteção do nosso corpo. Todos nós sentimos ansiedade em algum momento. Normalmente ela é ativada, vamos dizer assim, em situações de medo ou perigo. Ela nos mobiliza para encontrar saídas para isso. 

O transtorno de ansiedade se configura quando há um tipo de desajuste nesse mecanismo, quando ele fica hipersensibilizado, disparando respostas disfuncionais como medo exacerbado em situações neutras, causando prejuízo na vida do indivíduo. Um bom diagnóstico precisa levar em consideração a frequência e intensidade dos sintomas e só pode ser fechado por um médico psiquiatra.

VP: Quais são os sinais/sintomas do transtorno de ansiedade?

LQ: São muitos e podem se manifestar de formas diferentes, para pessoas diferentes. Envolvem várias esferas, tendo sintomas cognitivos, fisiológicos e comportamentais. 

Exemplo de cognitivos: pensamento acelerado, baixa atenção e concentração, pensamentos negativos, necessidade de reasseguramento e controle, entre outros. Exemplo de sintomas fisiológicos: sudorese, tremor, dores musculares e de cabeça, aperto no peito, “nó” na garganta, falta de ar, falta ou excesso de apetite, formigamento, etc. Exemplos de sintomas comportamentais: impulsividade, irritabilidade, agressividade, excitação motora, entre outros. 

Não é necessário sentir todos os sintomas para configurar transtorno. O principal é identificar se há sofrimento psíquico e se o impacto sobre a vida é significativo. 

VP: Como a ansiedade interfere na rotina de uma pessoa que trabalha, cuida da casa, estuda. Pode atrapalhar uma pessoa de se organizar e ser produtiva?

LQ: A ansiedade pode ser paralisante e bastante incômoda. Como o organismo entende que precisa estar em alerta, a atenção fica “espalhada”. Isso reduz a capacidade de concentração, por exemplo, e sem isso não guardamos estímulos muitas vezes importantes. Ficamos mais dispersos, esquecidos, e frequentemente sentimos culpa por isso, o que pode levar ao rebaixamento do senso de capacidade e autoestima.

VP: Como lidar com a ansiedade para conseguir ser produtiva e organizada?

LQ: Não é algo simples, que há uma receita de bolo que possa dar. Mas o caminho começa por entender como a sua ansiedade se manifesta no seu corpo, pensamentos e comportamentos, como ela se consolidou, de onde vem, quais seus gatilhos, para elaborar estratégias eficazes para o seu manejo. O psicólogo é o profissional indicado para auxiliar nesse processo.

VP: O que fazer quando a ansiedade fica mais “forte”?

LQ: Tentar se voltar para o momento presente. A ansiedade nos faz ir para um tipo de universo paralelo, com isso, é preciso arranjar estratégias que te “ancorem” ao momento presente, que é o único lugar onde realmente podemos ter algum controle sobre. Focar na respiração é um bom processo de “ancoragem”. Mas claro, a ansiedade é complexa e merece mais atenção. Quando perceber que está se intensificando, talvez seja a hora de buscar ajuda profissional.

VP: O que fazer para evitar/amenizar a ansiedade?

LQ: Ter atividades de relaxamento e prazer no seu dia-a-dia, nem que seja a horinha sagrada do seu café ou uma playlist anti-ansiedade, com músicas que te tragam boas sensações. 

Não precisa ser algo muito extraordinário, foque nas coisas simples. É muito importante conversar com você mesmo, como estratégia autorregulatória: isso que estou sentindo/pensando é um fato ou uma dedução? Ou ainda, falar com você da forma que falaria com um amigo. 

Normalmente tendemos a nos julgar, sermos autocríticos e punitivos com nós mesmos. Se um amigo estivesse experienciando a sua ansiedade, o que você falaria para ele? Muito provavelmente teríamos compaixão. Repita essas palavras compassivas também com você.

E claro, lidar com a ansiedade requer treinamento e é bem mais complexo que isso, mas tente não esquecer de viver um momento de cada vez.

VP: Quais hábitos podem ser adquiridos para melhorar a ansiedade?

LQ: Criação de rotinas, pois traz sensação de segurança para o nosso cérebro. O que você pode fazer assim que acorda para se sentir bem? Meditar, se alongar, fazer yoga, rezar se for da sua vontade, repetir um mantra, ouvir uma playlist, malhar. 

Atividades físicas, boa alimentação e hidratação também são cruciais para o bom manejo da ansiedade. E claro, manter a terapia em dia, e medicamentos, quando necessário. 

VP: O planejamento e a organização podem ajudar na ansiedade?

LQ: Com certeza! Lidar com a ansiedade é um treinamento e ter essas ferramentas a nosso favor são imprescindíveis.

É possível sim ser produtiva, organizada e conseguir planejar sua vida, apesar da ansiedade. Inclusive é necessário e ajuda muito, como dito. Um dia de cada vez, uma coisa de cada vez, por mais simples que seja já te leva a ser uma pessoa produtiva e organizada. 

Lembre-se que você consegue e que a ansiedade não é você! Ela faz parte da sua vida e aprender a lidar e tratar ela é fundamental. Busque ajuda quando perceber que a ansiedade está se intensificando e roubando tempo na sua vida. O tratamento e acompanhamento psicológico é muito importante para o alívio dos sintomas e do sofrimento psíquico e sem dúvidas, melhora sua qualidade de vida. Busque ajuda e não tenha vergonha nem medo de fazer isso. 

E aí, nos conta nos comentários quais dicas da Louise você vai colocar em prática AGORA? 

 

Respondido por Psicóloga Louise Quintella, CRP 05/52629.